« Tenho pena de vocês, neuróticos frustrados e políticos demagogos que descarregam vossa amargura em cima do meu cigarro para despistar e encobrir tantos problemas realmente imensos que não lhes interessa resolver. » Elisabete Gailewitch.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O FUNDAMENTALISMO E O TABACO

o FUNDAMENTALISMO E O TABACO por Martins dos Santos

O Fundamentalismo, de fenómeno religioso estendeu-se a vários aspectos da nossa vida quotidiana.
Dou como exemplos o vegetarianismo (não todos os vegetarianos) e o anti-tabagismo.
Deixemos o primeiro e passemos a tecer algumas considerações sobre o segundo.
Que o tabaco não faz bem à saúde é um dado adquirido, pelo menos até agora... E digo até agora porque me recordo do tempo em que se exorcisava o azeite (o óleo é que era bom...), tudo baseado em factos “científicos”.
E recordo também a ligação “científica” entre os peixes gordos e a aterosclerose, exactamente ao contrário do que hoje se diz! A verdade é que nesse tempo as noções de “bom” e “mau” colesterol não tinham descido ainda à praça pública...
O tabaco entrou na Europa pela porta de Portugal, levado de Lisboa para Paris em 1559 pelo embaixador Jean Nicot. Foram três pés de tabaco que ofereceu a Catarina de Médicis, exaltando o valor curativo da planta, já utilizada entre nós com o nome de Erva Santa. A sua entrada na Itália também partiu de Portugal, através do Núncio Apostólico, Próspero Santacroce
Começou por ser usado, depois de secas as folhas, em infusões e, depois de moídas, aspirado pelo nariz, com o nome de rapé.
Só mais tarde passaram a ser enroladas e fumadas, tal como faziam os índios no Brasil.
Proíbido o uso do tabaco fumado nalguns países da Europa ou considerado como prática anti-social, depressa o seu uso se generalizou, como acontece com todas as coisas proíbidas ou dificultadas.
Talvez se encontre aqui a razão de, pelo menos no meu tempo, os filhos não fumarem em frente dos pais. Nunca compreendi bem as razões disso, tanto mais que nessa altura não se falava nos malefícios do tabaco como agora se fala. Só uma tradição poderia explicar esse facto.
Nas escolas, então, era impensável fumar! Mas os jovens viam no fumo um ritual iniciático à entrada na vida de adultos e a tentação era grande.
O primeiro cigarro sabia mal, o fumo engasgava, mas isto de ser homem tinha os seus sacrifícios...
O mesmo, ou quase, se dava com a iniciação sexual.
Não havia uma pedagogia anti-tabagista, mas apenas uma semi-proibição que se ia diluindo com a idade.
A verdade é que também nesse tempo não se atribuía ao tabaco o rol quase interminável de mazelas que hoje lhe apontam.
Seria estultícia negar que o uso, ou melhor, o abuso do tabaco pelos fumadores é um factor de risco acrescido para muitas afecções, sobretudo a nível respiratório e cárdio-vascular.
Fumar por dia 10 ou mesmo 20 cigarros, sem inalar o fumo, fumar um charuto ou usar cachimbo não será, necessariamente, correr o mesmo risco daqueles que inalam o fumo de 30 ou 40 cigarros. Como em tudo, há o uso e o abuso e o potencial de risco é-lhes directamente proporcional.
Para justificar o clima proibicionista criou-se a figura do “fumador passivo”, cuja validade científica me merece reservas, nalguns casos.
Fumar em ambientes fechados, sem ventilação, com muitos fumadores em relação àqueles que não fumam, é natural que prejudique estes últimos, que acabam por inalar alguns produtos da combustão do tabaco, em todo o caso muito menos do que os fumadores reais.
Bem sei que a falta de habituação do organismo os pode tornar mais vulneráveis.
Mas se se tratar de um ambiente arejado, com poucos fumadores, não creio que isso vá prejudicar os que não fumam mais do que os prejudica a respiração dos gases de escape dos motores de explosão.
É ver os políticos que fizeram as leis de proibição de fumar fazerem-no nas reuniões em gabinetes fechados, como a televisão tanta vezes nos mostra...
De resto, as leis que em Portugal restringem o fumar são bastante permissíveis, se comparadas com as dos E.U. por exemplo.
Aí, sim, impera o Fundamentalismo!
Há estados em que até se proíbe o fumar nas ruas!
Contaram-me que, há tempos, um cidadão que vivera nos E.U. muitos anos e depois se ausentara tinha regressado à América.
Um antigo amigo acompanhou-o numa visita à cidade e perguntou-lhe que diferenças encontrara.
Achou as diferenças naturais e esperadas: mais casas, mais gente, mais carros. A única coisa que o surpreendera foi o ter deixado uma América puritana e encontrar agora, em pleno dia, grupos de prostitutas nos passeios do centro da cidade!
O amigo arregalou os olhos, espantado!
-Mas o que o levava a dizer isso?
-Então não notaste os grupos de mulheres, a fumar, nos passeios, certamente à espera de clientes?
Eram empregadas de escritórios que vinham até às portas dos edifícios para poderem fumar um cigarrinho...
Não sei se é verdade ou se é uma vingança da Phillips Morris por causa dos milhões que tem pago a fumadores doentes...
No princípio do século que ora finda, um poeta, creio que Augusto Gil, fazia o elogio do tabaco:



No centro dos círculos,
Em nuvens de fumo,
Um Deus me presumo,
Um Deus sobre o altar.



Hoje, o poeta repentista da esquina poderia dizer;



Se o Zé fuma, é morte certa,
Se não fuma, certa é.
A Ciência é tão incerta...
Deixem lá fumar o Zé.



fonte: eusou.com

Texto inserido em:26/11/2002

Sem comentários:

Enviar um comentário